sábado, 14 de maio de 2011

Herdeira ao trono


Mais tarde na sua vida, Vitória descreveu a sua infância como "bastante melancólica".[15] A sua mãe era muito protectora e, por isso, Vitória foi criada isoladamente, longe de outras crianças da sua idade, e seguindo o chamado "Sistema Kensington", um conjunto de regras e protocolos elaborados desenvolvido pela duquesa e o seu mordomo ambicioso e dominador, Sir John Conroy, que, segundo alguns rumores possivelmente errados, era o amante da duquesa.[16] O sistema impedia-a de se encontrar com pessoas que a sua mãe e Conroy considerassem indesejáveis (um grupo que incluía grande parte da família do seu pai), e estava direccionado no sentido de a tornar fraca e dependente deles.[17] A duquesa evitava a corte pois chocava-se com o facto de ela ser frequentada pelos filhos ilegítimos do rei,[18] e talvez para mostrar a moralidade de Vitória insistindo que a sua filha evitasse qualquer forma de indecência sexual.[19] Vitória partilhava o quarto com a sua mãe, estudava com tutores privados seguindo um horário regular e passava as suas horas de lazer a brincar com as suas bonecas e um king charles spaniel chamado Dash.[20] Aprendeu francês, alemão, italiano e latim [21], mas falava inglês em casa.[22]
Em 1830, a duquesa de Kent e Conroy levaram Vitória até ao centro de Inglaterra para visitar Malvern Hills, parando em aldeias e grandes casas de campo pelo caminho.[23] Em 1832, 1833, 1834 e 1835 foram feitas viagens semelhantes. Para grande irritação do rei Guilherme, Vitória foi recebida com muito entusiasmo em todas as paragens.[24] Guilherme viu estas viagens como ambições reais e temia que as pessoas começassem a ver Vitória como a sua rival em vez de a verem como sua herdeira.[25] Vitória não gostava destas viagens. A ronda constante de aparições públicas deixava-a cansada e doente e tinha pouco tempo para descansar.[26] A princesa opôs-se a estas viagens, argumentando que o rei não gostava delas, mas a sua mãe ignorou as suas queixas por ciumes e forçou a filha a continuar.[27] Enquanto estava em Ramsgate, em Outubro de 1835, Vitória apanhou uma febre grave, mas Conroy ignorou-a, afirmando que as suas queixas não passavam de fingimentos infantis.[28] Enquanto Vitória estava doente, Conroy e a duquesa tentaram fazer com que ela nomeasse Conroy como seu secretário privado, mas a princesa recusou.[29] Enquanto adolescente, Vitória resistiu a muitas tentativas persistentes por parte da sua mãe e Conroy para nomeá-lo para seu funcionário.[30] Quando se tornou rainha, acabou por bani-lo da sua presença, mas Conroy manteve-se na casa da sua mãe.[31]
Em 1836, o irmão da duquesa, Leopoldo, que se tinha tornado rei dos belgas em 1831, começou a fazer planos para casar a sua sobrinha Vitória com o seu sobrinho Alberto de Saxe-Coburgo-Gota.[32] Leopoldo, a mãe de Vitória e o pai de Alberto (o duque Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota) eram irmãos. Leopoldo convenceu a sua irmã a convidar os seus parentes de Coburgo para a visitarem em Maio de 1836, com o objectivo de apresentar Vitória a Alberto.[33] Contudo, Guilherme IV não aprovava nenhum tipo de união de membros da sua família com os Coburgos e preferia que a sua sobrinha se viesse a casar com o príncipe Alexandre dos Países Baixos, segundo filho do príncipe de Orange.[34] Vitória sabia dos vários planos de casamento e dava a sua opinião sobre a parada de príncipes elegíveis que lhe iam sendo apresentados.[35] Segundo o seu diário, Vitória sempre gostou da companhia de Alberto. No fim da visita, escreveu: "[Alberto] é extremamente bonito, o seu cabelo é da mesma cor do meu, os seus olhos são grandes e azuis e tem um lindo nariz e uma boca muito doce com bons dentes. Mas o charme do seu rosto é a sua expressão, que é muito agradável."[36] Por outro lado, achava Alexandre "muito simples".[37]
Vitória escreveu ao seu tio Leopoldo, que sempre considerou o seu "melhor e mais gentil conselheiro",[38] para lhe agradecer pela "perspectiva de grande felicidade para a qual contribuiu na pessoa do querido Alberto (...) ele tem todas as qualidades que seriam desejáveis para me deixar perfeitamente feliz. É tão sensível, tão gentil, e tão bom e amoroso. Além do mais tem o exterior mais agradável e encantador que se pode ter."[39] Contudo, aos dezassete anos, apesar de estar interessada em Alberto, Vitória não estava pronta para se casar. Os dois lados não avançaram com um noivado formal, mas assumiram que a união iria acontecer a seu tempo.[40]

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